Quarteto californiano fez um show impecável para os fãs mais raíz

Texto e fotos: Fernanda Cristina

Há coisas nesta vida em que a célebre frase “eu só acredito vendo” cai como uma luva. Para o fã de Red Hot Chili Peppers, quem acreditaria que John Frusciante voltaria para a banda um dia? E para o fã de Red Hot Chili Peppers que mora em Brasília, quem acreditaria que, além do John voltar para a banda, eles tocariam na capital federal ainda nesta encarnação? Pois foi exatamente isso que aconteceu no dia 07/11, para a alegria dos que esperaram tanto tempo por esse dia, que para muitos era improvável. 

O espetáculo teve início às 19h45 com o show da banda de abertura Irontom, até então desconhecida do grande público. Fizeram uma apresentação rápida, porém competente o bastante para agitar a galera (com direito ao carismático vocalista Harry Heyes se enrolando na bandeira do Distrito Federal enquanto cantava, e o guitarrista Zach Irons mostrando suas habilidades na guitarra). 

Após o show dos novatos e uma corrida insana contra o tempo de roadies ajeitando o palco e afinando instrumentos, as luzes se apagaram e o que parecia sonho tornou-se realidade. Às 21h05, sob gritos e aplausos copiosos da multidão, Chad Smith, Flea e John Frusciante subiram ao palco e já engataram uma jam poderosíssima que seria o prelúdio de algo maior. Tão logo os primeiros acordes de “Around the World” ecoaram pelo estádio, o público respondeu instantaneamente fazendo um barulho ensurdecedor. Foi a deixa para, finalmente, Anthony Kiedis se juntar ao trio e dar início a uma grande noite que estava só começando. 

Sem pausa para descanso, “Scar Tissue” e “Dani California”, mais dois hits gigantescos, foram despejados em seguida e acompanhados pelos fãs com o mesmo fervor. Logo após, “Universally Speaking”, “Aquatic Mouth Dance” (do recente álbum Unlimited Love) e a melancólica “Soul to Squeeze” entraram em cena para acalmar os corações agitados. 

Entre uma música e outra, a cozinha musical de Chad, Flea e John estava a todo vapor. Eram nítidos o entrosamento e a sintonia dos caras em cada improviso, como se os três soubessem o que deveria ser feito. E cada integrante teve o seu momento de brilhar, seja Flea com suas linhas de baixo furiosas, Anthony com seus passos de dança amalucados, Chad ditando o ritmo com suas baquetas e John Frusciante fazendo sua guitarra chorar durante seus solos. E por falar em John, certamente essa turnê é toda dele. Por onde a banda passa, o público não economiza nas demonstrações de carinho para com o guitarrista, e em Brasília não foi diferente. Sempre que podia, a galera gritava o nome de John, que retribuía com um sorriso tímido e com um solo de guitarra matador, para o delírio de seus admiradores. 

E para os fãs “raiz”, aqueles que manjam tudo de RHCP e mais um pouquinho, também tiveram algumas surpresinhas agradáveis no repertório. Os caras simplesmente mandaram

“Throw Away Your Television”, “I Like Dirt” e a super querida pelos fãs brasileiros, “Wet Sand”, em sequência. E para coroar esse momento “Lado B” do Chili Peppers, Flea ainda cantou a música “Pea”, do longínquo One Hot Minute, de 1994. Sem dúvidas um belo presente para quem acompanha a banda há anos. 

De volta ao presente, as novatas “These Are the Ways”, “Whatchu Thinkin'” e “Black Summer”, todas do Unlimited Love, também foram incorporadas ao setlist, porém inevitavelmente um dos pontos altos da noite se deu quando os quatro californianos tocaram os mega hits “Californication” e “By the Way”. Aí não teve como, o estádio inteiro se sentiu na obrigação de cantar esses dois sucessos a plenos pulmões. Vamos combinar que não tem como deixar essas duas músicas icônicas de fora, né? Talvez até o próprio RHCP saiba disso. 

E na hora do bis, a baladinha “I Could Have Lied”, do consagrado Blood Sugar Sex Magik (de 1991), entrou em cena para a alegria dos fãs de longa data. Mas para encerrar a noite em alto estilo, os caras se despediram com a incendiária “Give it Away”, que fez a galera tirar os pés do chão e gastar o resto de energia que ainda tinha para acompanhar a loucura da banda em cima do palco. E assim, depois de 01h30 de show, os Chili Peppers se despediram rapidamente do público, deixaram o palco e um gostinho de quero mais para quem pode assistir ao show de uma banda cheia de presença e com muita lenha para queimar ainda.