Trio argentino Seattle Supersonics e Orquestra Sinfônica Villa Lobos, regida pelo maestro Adriano Machado, agitaram o público presente na Audio em São Paulo na última sexta-feira (13)

Espera um minuto. Kurt Cobain está vivo? Dave Grohl e Krist Novoselic  lá dos anos 90 entraram em uma máquina do tempo e viajaram até 2023? Essa foi a sensação que o trio argentino Seattle Super Sonics invocou durante o show na Audio Club na última sexta-feira (13). Eles conseguiram trazer o melhor do Nirvana com uma performance de palco simplesmente eletrizante e com um toque inusitado: a Orquestra Sinfônica Villa Lobos. 

O show iniciou às 0h com uma breve introdução da orquestra, em configuração reduzida, que tocou uma sequência de grandes sucessos do Nirvana. Logo depois, Ezequiel Dias (vocal e guitarra), Esteban Molina (bateria) e Christian Monteiro (baixo) subiram ao palco vestindo roupas sociais em referência a apresentação do Nirvana no programa francês “Nulle Part Ailleurs” e até por isso a potente "In Bloom" ter sido a primeira música do repertório fez total sentido. Na sequência, eles tocaram “About a Girl” e “Polly” em versões ainda mais melancólicas. 

KURT COBAIN ESTÁ ENTRE NÓS!

Chamou muita atenção em como Ezequiel consegue incorporar o icônico vocalista do Nirvana tanto no visual como também na personalidade introspectiva de forma impecável. O cabelo cobrindo os olhos e a interação com o público através da guitarra e da voz (que tem um timbre absurdamente parecido com o de Cobain). 

HERE WE ARE NOW, ENTERTAIN US! 

Não teve tempo pro público recuperar o fôlego depois das agitadas “Breed” e “Been a Son”, que foram seguidas pelo clássico “Smells Like Teen Spirit”. O maior sucesso dos criadores do movimento grunge ascendeu uma faísca que permaneceu acesa até o fim do show. Aconteceram incontáveis mosh e “stage dives” - comuns nos primórdios do Nirvana - que tiraram vários sorrisos do público e também dos músicos.  

MTV UNPLUGGED

O show acústico do Nirvana para a MTV em 1994 é um dos mais emblemáticos da história da música. Não apenas pelo formato, mas também pela estética sombria com os lírios e um Kurt Cobain ainda mais introspectivo. Essa apresentação foi lembrada pelo Seattle Super Sonics com as músicas “Dumb”, “Jesus Doesn’t Want Me For a Sunbeam”, “The Man Who Sold the World” (cover de David Bowie) e “All Apologies”.

Os músicos regidos pelo maestro Adriano Machado com certeza ganharam destaque nessas músicas, especialmente naquelas que já tinham versão acústica, visto que trouxeram e reforçaram ainda mais as melodias vocais e instrumentais, mas sem alterar a essência original.

“Heart-Shaped Box” e “Something in the Way” impressionaram pelo toque ainda mais soturno com os arranjos orquestrais. Para a execução de “Something in the Way” o baterista Esteban Molina pediu para os fãs acenderem as lanternas dos celulares. “Serve the Servants” e “You Know You’re Right” extasiou o público que cantou o refrão de ambas músicas a plenos pulmões. Por fim, o maestro Adriano Machado convidou Anselmo Pereira, que assumiu a regência ao longo da canção “Drain You”.

“Lithium” concluiu o lado A do espetáculo que integrava a Orquestra, com direito a Ezequiel Dias puxar o coral da plateia com o primeiro verso. Antes de deixarem o palco, os músicos regidos por Adriano foram introduzidos um a um pelo próprio maestro.  Dando início, na sequência, o set “lado B”.

A FASE GRUNGE DO NIRVANA (LADO B)

“Vem aí agora o ‘lado grunge’ do show, aquele que os verdadeiros fãs de Nirvana gostam”, afirmou Adriano Machado e dessa forma anunciando a segunda parte da apresentação. Ezequiel, Christian e Esteban voltaram ao palco vestindo roupas mais casuais, mais do jeito "Nirvana". A sensacional versão de “Love Buzz”, da banda holandesa Shocking Blues, retomou o repertório. “Floyd the Barber”, “Molly’s Lips” e “School” levaram o público para o início da formação do Nirvana antes da ganhar notoriedade mundial em 1991.

No decorrer da execução da música “Aneurysm” mais e mais fãs iam invadindo o palco, exigindo trabalho dos seguranças. Como bons fãs de Nirvana, a banda tributo se mostrou empolgada em tocar tanto os maiores sucessos quanto as músicas lado B. Esteban Molina se surpreendeu positivamente quando o público começou a cantar , que não integrou a tracklist de “In Utero” (1993). “Rape Me” foi recebida também com muito entusiasmo. 

“Come You As Are”, uma das preferidas do disco "Nevermind", não poderia ficar de fora. Já se aproximando do final do show o público pode conferir a agitada “Territorial Pissings” e “Endless, Nameless” – faixa escondida de “Nevermind” –  com Ezequiel e Christian se jogando para a galera.

SIMPLICIDADE É A CHAVE DO SUCESSO:

O Seattle Supersonics realizou um show muito correto tecnicamente. Foi surpreendente acompanhar e perceber o quanto a banda foi cuidadosa em cada detalhe. Christian incorporou com perfeição os trejeitos de Krist Novoselic, especialmente os "pulinhos" que o baixista tinha como assinatura. Esteban Molina não poupou energia na bateria e na simpatia, mostrou muito virtuosismo e grande carisma assim como Dave Grohl. Ezequiel foi fantástico como Kurt Cobain. A orquestra deu um toque ainda mais elegante para a apresentação que foi preparada e realizada em honra ao Nirvana, como prometido pela banda.

O show foi simples, sem grandes produções. Assim como o Nirvana. Foi simplesmente a comunhão plena e total de público e banda em uma noite absolutamente mágica. 

SETLIST COMPLETO

LADO A: 

• In Bloom
• About A Girl
• Polly
• Breed
• Been A Son
• Smells Like Teen Spirit
• Dumb
• Jesus Doesn’t Want Me For A Sunbeam
• The Man Who Sold The World
• All Apologies
• Heart-Shaped Box
• Something In The Way
• Serve The Servants
• You Know You’re Right
• Drain You
• Lithium

LADO B: 

• Love Buzz
• Floyd The Barber
• Molly’s Lips
• School
• Aneurysm
• Sappy
• Rape Me
• Come As You Are
• Territorial Pissings
• Endless, Nameless