Maerzfeld: muito além das comparações óbvias

1:43 PM

Por: Karen Batista

É uma tendência do ser humano fazer comparações – é parte do nosso processo cognitivo buscar referências no conhecido para entender o desconhecido. E embora talvez facilite apresentar o trabalho dos alemães do Maerzfeld ao público brasileiro comparando-os ao Rammstein –  seus compatriotas mais aclamados aqui em nosso país e que são homenageados pelos próprios integrantes do Maerzfeld em sua banda tributo Stahlzeit – não seria justo com o sexteto bávaro que pode ter até menor expressão mas não menor genialidade.



Formada em 2011, a banda lançou há poucos dias seu segundo álbum, “Fremdkörper”, e tem recebido elogios da imprensa musical especializada alemã. Não é para menos. A banda oferece o melhor do metal industrial, com os vocais sombrios de Heli Reissenweber, as guitarras pesadas e cortantes de Mike e Matthias Sitzmann, os arranjos ao mesmo tempo peculiares e sofisticados de teclado (ou mesmo piano e acordeon) de Thilo Weber, e o peso e ritmo mesmerizantes do baixo de Bora Öksüz e da bateria de Michael Frischbier (na formação atual; anteriormente a banda contava com o guitarrista Roland Hagen, o baixista Samir Elflein e o baterista Thomas Buchberger) em canções com letras baseadas em experiências reais dos integrantes ou em histórias não menos reais de sofrimento mas sem fazer da apelação para um circo de bizarrices, letras de sentido obscuro, efeitos pirotécnicos ou trejeitos obscenos seu diferencial – e aqui mesmo que as comparações com o Rammstein tornam-se injustas.


A arte do Maerzfeld coloca-se a serviço da empatia, e não do mero espetáculo, ainda que possa criar alguma controvérsia – por exemplo, a faixa que dá título ao álbum e que embala o primeiro videoclipe do atual trabalho, “Fremdkörper” (em português, “corpo estranho”) aborda o tema da transexualidade; embora em nossa sociedade este ainda seja um tema tabu, a poesia do frontman Heli Reissenweber – que também é o autor de todas as letras da banda – o faz de forma tão sensível e direta que é praticamente impossível não compreender o drama de quem sente-se aprisionado em um corpo que não representa sua natureza; e o videoclipe dirigido por Johannes Schiffelholz reflete a mesma sensibilidade e franqueza na abordagem do assunto.


É difícil apontar “destaques” dentre as faixas – todas são marcantes à sua maneira, desde a crua “Maerzfeld”,  passando pela a sensual e sombria “La Petite Mort”;  a dançante “Tanz für mich”, um flerte com uma sonoridade mais pop que completamente contrasta com a tristeza e a solidão do Eu Lírico; “Kopfschuss” e “Fleisch Im Fleisch” que relembram bastante a sonoridade do Rammstein; e finalizando com a  melancolia e o pesar de “Der Letzte Sommer”, para apontar apenas algumas.

O álbum “Fremdkörper” assim como o antecessor “Tief” (de 2012) não são distribuídos no Brasil mas podem ser adquiridos no iTunes, assim como uma amostra de todas as músicas pode ser conferida no Soundcloud da gravadora.


ENGLISH VERSION



We human beings tend to make comparisons as part of our cognitive process – we search references in the known to understand the unknown. And while perhaps it's easier to introduce the work of the German band Maerzfeld to the Brazilian audiences comparing them to Rammstein – their most acclaimed compatriots here in our country and that to whom the Maerzfeld members themselves pay homage with their tribute band Stahlzeit – it wouldn't be fair with the Bavarian sextet that might be less famous but not less brilliant.

The band was formed in 2011 and released a few days ago its 2nd album “Fremdkörper” and has received praise from the specialized music press in Germany. And it's understandable. The band offers the best of the industrial metal sound, with the dark vocals of Heli Reissenweber, the heavy and sharp guitars of Matthias and Mike Sitzmann, the peculiar yet sophisticated keyboards (or even piano and accordion) of Thilo Weber, the mesmerizing weight and rythym of Bora Öksüz's bass and Michael Frischbier's drums (in the present line-up; in previous incarnations, the band counted with the guitarist Roland Hagen, the bassist Samir Elflein and the drummer Thomas Buchberger) in songs with lyrics based in the members' real experiences or in not less real stories of suffering. Yet this is done without resorting to a freakshow-like spectacle, obscure lyrics with cryptic meaning, pyrotechnic effects or obscene antics as their gimmick – and it's precisely here where the comparisons between Maerzfeld and Rammstein become remarkably unfair.

Maerzfeld's art is poignantly empathic, even though it still bears potential for controversy – for instance, the track that names the album and that was made into the first video of the current work, “Fremdkörper”, approaches the theme of transexuality; even though it's still a taboo theme in our society, the poetry of frontman Heli Reissenweber – who is the author of all the Maerzfeld's lyrics – do this in a way which is so sensitive and straightforward that it's impossible to not understand the drama of the ones who feel imprisoned into a body that doesn't represent their true nature; and the video directed by Johannes Schiffelholz reflects the same sensitivity and frankness in approaching the subject.

It's hard to point out “highlights” in this album as all the tracks are remarkable in their own way, from the crude “Maerzfeld”, passing by the sultry and shady “La Petite Mort”, the dancing “Tanz für Mich”, a flirt with a surprisingly pop beat which greatly contrasts with the sadness and loneliness of the Lyric I; “Kopfschuss” and “Fleisch Im Fleisch”, which are quite reminiscent of Rammstein's sound; and ending with the melancholy and grief of “Der Letzte Sommer”, just to mention a few.

The “Fremdkörper” album, as well as its predecessor “Tief” (of 2012) aren't distributed in Brazil but can be acquired at the iTunes store as a sample of all the tracks can be listened to at the recording company's Soundcloud profile.

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